Ela o viu entrar no estabelecimento com outra nos braços. Sentaram-se no balcão e pediram dois cappuccinos. Ela os observou rir e conversar como se fizesse um lindo dia, e como se o café horrível servido lá fosse a melhor das bebidas. Aqueles eram, para todos os efeitos, seus amigos mais estimados. Na realidade, porém, ele era o garoto a quem ela mais amava e a outra, a amiga a qual ela não desejava odiar. Mas ela não podia evitar tremer de raiva ao vê-los juntos, não conseguia deixar de sentir-se subestimada, enganada, e até mesmo traída.
Os dois pareceram notá-la, apesar de todos os seus esforços para não ser reconhecida. Por fim, resolveram cumprimentá-la, provavelmente por educação. Sentaram-se com ela, falando sobre trivialidades.
-Você está tremendo. Está tudo bem? - Perguntou ele, a certo ponto da conversa. Ela olhou suas próprias mãos, notando que seus dedos realmente tremiam, mas a causa estava longe de ser o frio que fazia no local. Na verdade, ela nunca se sentira tão quente.
Como poderia estar bem, quando ele havia escolhido a outra em vez dela? Como poderia, se apesar de repetidamente ele a ter elogiado e expressado sua admiração por ela, era para a outra que ele direcionava seu carinho? Se apesar de todas as conversas travadas, todas as ideias compartilhadas, todas as horas passadas juntos, era a outra que ele abraçava, era seu cabelo que ele acariciava e seu rosto que ele tocava? Como poderia viver sendo sempre a segunda escolha, sempre a grande amiga, porém nunca a mais querida? Se apesar de ser com ela que ele cantava todas as canções, era para a outra que ele as dedicava? Ele sempre pedia para que ela lesse seus poemas, mas era pra a outra que ele os escrevia.
Como poderia estar bem, sabendo ser tão certa para ele, a perfeita companheira, e apesar disso não ter sido escolhida? Como poderia suportar as risadas dadas juntos, quando todos os gracejos dele eram para a outra?
Mas apesar de tudo isso, ela simplesmente respondeu:
- Estou bem.
C.B.
C.B.
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