segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Nos meus olhos eu carrego dor

Me dói querer e não ter.
Me dói o estômago, a fome.
Me dói esta humilhação.
Me enoja este odor.

Eu sou o lixo humano.
A escória da sociedade.

Ou pelo menos, assim os olhos me disseram.

Aqueles olhos que se recusam a pousar em mim…
Que temem levar qualquer peso à consciência de seus donos.
São olhos de desgosto, de piedade, de medo, de nojo.
São armas deste sistema hierárquico.

Eu choro
Eu imploro
Eu só quero que esta dor passe.

Juro, não é pelo dinheiro.
É apenas um apelo.
Uma mão estendida, como uma bandeira branca.
Tua atenção me é uma esperança.

Decepção.
Me dói existir
Ou melhor, me dói sobreviver.

Nesta guerra eu não tenho voz.
Olha pra mim, por favor.
Eu quero viver.
Me ajude.

Tão só…

Fui abandonado com minhas desconfianças
Passei as noites com meus medos
Acordei com as dores de todo dia
Dormi chamando a morte.

Hoje, eu vou agradecer
Pela chuva que não veio
Pelo abrigo, meu lar.
Por mais um dia

Se ao menos um dia eu pudesse me ter
Ser alguém…
Quem sabe eu fosse além do animal.

Ser.
Pensar.
Reagir.
Viver.

Mas hoje eu só quero comer,
Aliviar a dor que carrego no corpo,
Abafar aquela que grita da alma,
E sobreviver.


G.N.





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