domingo, 10 de abril de 2016

Um momento, um pensamento

   O coração grita, esperneia, rompe com cada músculo que tenta lhe segurar, engata e chega à mão; enquanto a razão calmamente se apresenta, de uma forma lógica e aparentemente inequívoca, como numa equação, mostrando-lhe os riscos de cada pulo. Ir contra aquele nunca pareceu tão fácil, sufocar seus anseios e desejos nunca pareceu tão sensato, mas a dor deste ato revela que há algo de errado nisso. Como ser corajoso e se aventurar por estes caminhos tão tortuosos e traiçoeiros da vida quando carregas contigo um medo intrínseco e tão sensato?
   Tentas construir uma armadura, algo resistente o suficiente que te proteja de toda dor e sofrimento que possam surgir por este labirinto. Mal sabes tu que esta bolha só te impede de viver, de sentir, não há mérito nenhum em ver o tempo passar sem experimentar cada um de seus segundos, viver os momentos que ele traz. A empatia é solitária e vazia, transformas-te num boneco de lata sem coração, fadado a sonhar pelos outros e sentir através de outros olhos, ignorando os teus próprios. E entre os pesadelos da razão, sofres por antecedência. 
   Talvez a loucura seja apenas questão de ser, algo inerente a todos aqueles capazes de sentir, um rio de emoções que escorre pelos olhos quando não cabe mais no coração. Uma sinestesia da alma que se aventura pelo destino, encarando a si mesma no espelho, perdida. Quiseras tu que soubéssemos as receitas deste bolo, mas a imprevisibilidade é só mais uma das regras deste jogo. 

     Afinal, o que é certo? A curiosidade para uma pergunta talvez sem resposta te consome, e seguindo por uma verdade imaginária te perdes, cais entre as falhas desta ponte velha e sem fim. Abandonar tantos preceitos traz uma esperança de finalmente talvez encontrar um sentido para todo este redemoinho, uma morfina para um coração tão ansioso e dolorido e vida para uma razão tão vazia. Sorte para aqueles corajosos que ousam enfrentar seus medos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Viva la vida

  Eu vejo espelhos, eles estão me encarando, dizem que estou louca, já não sei mais por qual caminho seguir, são tantas ilusões nesta mágica que chamamos de amor. Várias portas me cercam, mas a que quero você trancou por dentro. Se eu espernear você me deixa entrar? Por que seu coração se fechou para mim?
   Em quantas rosas terei de me furar até que você me resgate deste jardim? Acho que tomarei um chá com o chapeleiro, quem sabe eu encontre na loucura o conforto que te recusas a me dar. Entre as luzes, eu danço, distribuindo sorrisos que seriam teus, mas sumiste.
  Acho que briguei com o tempo, ele se recusa a passar quando peço e põe-se a correr quando meus desejos são que pare. Restam-me apenas as lembranças, migalhas daquilo que o vento levou... Fico a recordar aqueles momentos, as belas melodias que compusemos. Carrego agora a saudade e este sentimento que enterraste em meu peito.
  Sei que ainda estou em seus pensamentos, sei que ouves meus gritos silenciosos exorando por tua atenção; sei também o porquê de me ignorares. Os sonhos impedem que eu me afogue num mar de lágrimas, as esperanças me carregam, os vícios me sustentam. Os dias passam distantes. Você me faz parecer tão louca agora, sua indiferença não me convence, eu sei que não sou a única. Você pode dizer que estou sonhando, mas esta loucura é nossa.
   Continuaremos fingindo então, dizendo ao mundo que não nos importamos, como se assim ele fosse nos poupar dos desafios, quão ingênuos nos tornamos? Agimos como se pudéssemos controlar nossos sentimentos, quando na verdade, tudo o que fazemos é sufocá-los. Eu preciso respirar




G.N.

Here we go again

   Sustentado por vícios, sigo perdido, como num labirinto. Por tanto quis estar aqui, entre os protagonistas do show, sob os holofotes, mas hoje eu só queria saber se estou em seus pensamentos, se eu poderia estar com você.
   Dizem que nada é por acaso, seriam estes sentimentos que agora tenho minha bússola e você o meu norte? Se assim o for, ajude-me a acha a saída destes devaneios, guie-me até a sanidade do seu abraço. Se não, deixe-me sucumbir às loucuras de minha mente.
   Onde estão as cartas marcadas deste jogo? Acho que nunca existiram, não existe trapaça na vida, pois sobre ela não há controle. Ganhaste-me com teus blefes, com tuas jogadas bipolares. Rendo-me ao coringa ou espero, aposto num coração que tanto já me enganou?
   Olhe onde chegamos, depois de tantos encontros e desencontros, agora vejo o outro lado da moeda. Melhor de três? Sonho acordada com o ar, enquanto afogo na realidade. No futuro, talvez, quem sabe, mas e agora?
    Hoje é você.





G.N.
 

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Teatro da vida

  Um dia eu já fui Clarice. No outro, fui Tarcila. Agora, acho que me perdi. Sinto falta de quando fui Maria, mas ainda mais de quando fui Layla, ou talvez de quando fui aquela. É, aquela, Ella. Essa última confesso que criei, mas tão bem me adaptei à tal que talvez ela mesma eu fosse… Quem sabe talvez ainda seja. Não sei. Foram tantas eus, que acho que já fui até mesmo um “nós”. Bom, então, sinto dizer que "nós" nos perdemos.
   É, confesso que já até acho cômico. Parece aquelas tragicomédias. Vai ver a vida seja isso, uma grande peça de teatro, cujo protagonista somos nós. Todas essas personagens em uma só, transformando-se conforme o ato. Veja, se está tudo dividido assim, pulemos para a próxima cena, por favor? Ou melhor, será que podemos voltar?
   Sinto dizer, mas desconheço o roteiro, está tudo no improviso. O que explica tantos erros, tantas falas mal reproduzidas, tantos cortes mal dados. Está tudo uma loucura, uma verdadeira tempestade. A gota d’agua já foi a ultima faz tempo, só esqueceram de contar que o copo estava furado. Só nos resta rir então, deste drama que de tão profundo tornou-se raso. São lágrimas de choro e de riso que enchem essa maré da vida.
    Pra ser sincera, a nostalgia me invade quando lembro daquele outro cenário, daqueles outros personagens e daquela velha história. Fazer o que se sonho com aquela antiga música de fundo, com aquela melodia calma e aconchegante, com aqueles olhos que narravam cada sentimento interpretado. Era tudo tão mais fácil, a ingenuidade trazia uma certa beleza ao contexto. As luzes tornavam a ilusão quase real. Mas a máquina de fumaça quebrou, a corda arrebentou e o pouso deste vôo foi tão suave quanto um coração de pedra.
    Pelo menos um novo elemento surgiu, esse coração pragmático, racional, calculista, coube perfeitamente no novo contexto impiedoso da peça. Foi um congelamento necessário para a sobrevivência no inverno da solidão. É, quem diria que mesmo um “nós" poderia encontrar a tristeza do silêncio. Mas, há sempre uma luz no fim do túnel, o Sol sempre dá o seu jeito de aparecer e tudo volta a ser só questão de perspectiva. Basta mudar a lente um pouco para reencontrarmos o foco.
      Tenho agora uma nova página em branco, milhões de possibilidades e muitas outras eus para ainda conhecer. Claro que o medo ainda me ronda, continuo naquela sinestesia louca, mas há sempre aquele plano de fundo de esperança que me grita um alto e sonoro “quebre a perna” que me incentiva a continuar, a me achar dentro desse complexo “eu”. Acredito Naquele que me dirige e por estes palcos sigo sendo a protagonista do meu show. E devo dizer, que espetáculo.



G.N.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Nos meus olhos eu carrego dor

Me dói querer e não ter.
Me dói o estômago, a fome.
Me dói esta humilhação.
Me enoja este odor.

Eu sou o lixo humano.
A escória da sociedade.

Ou pelo menos, assim os olhos me disseram.

Aqueles olhos que se recusam a pousar em mim…
Que temem levar qualquer peso à consciência de seus donos.
São olhos de desgosto, de piedade, de medo, de nojo.
São armas deste sistema hierárquico.

Eu choro
Eu imploro
Eu só quero que esta dor passe.

Juro, não é pelo dinheiro.
É apenas um apelo.
Uma mão estendida, como uma bandeira branca.
Tua atenção me é uma esperança.

Decepção.
Me dói existir
Ou melhor, me dói sobreviver.

Nesta guerra eu não tenho voz.
Olha pra mim, por favor.
Eu quero viver.
Me ajude.

Tão só…

Fui abandonado com minhas desconfianças
Passei as noites com meus medos
Acordei com as dores de todo dia
Dormi chamando a morte.

Hoje, eu vou agradecer
Pela chuva que não veio
Pelo abrigo, meu lar.
Por mais um dia

Se ao menos um dia eu pudesse me ter
Ser alguém…
Quem sabe eu fosse além do animal.

Ser.
Pensar.
Reagir.
Viver.

Mas hoje eu só quero comer,
Aliviar a dor que carrego no corpo,
Abafar aquela que grita da alma,
E sobreviver.


G.N.





quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Dedicado...

A fita é rebobinada. Revive-se os bons momentos por meio das lembranças amargas, enferrujadas pelo tempo, as quais nada fazem alem de reafirmar a solidão da realidade. Desejar não é poder, é apenas o querer, uma denúncia dolorosa de vossa insignificância. Não cabe a vós decidir, pois o bem e o mal dependem apenas do contexto.
  O passado passou, o presente é indiferente, não passa de uma espera demasiadamente longa pelo futuro. Este ultimo vive na incerteza, alimentando as esperanças nos sonhos e fantasias, os quais podem nunca se realizar. Reclamar é pecado, uma ingratidão absurda. O que seria de vós sem o hoje? Um eterno nada.
  Pois bem, sorride. Alegrai-vos. O coração há de perceber tal infantilidade, acordar da arritmia constante deste parque de diversões de azar. Esquecei aquele palhaço, deixai afogar-se na mentira que é; não há nada por detrás da máscara, nada mais do que uma farsa, desmerecedor da atenção pela qual tanto batalha por. Bebei desta droga, trapaceai se necessário, mas levantai vossa auto estima, antes que o elefante a esmague.
 

domingo, 28 de outubro de 2012

Começando

   A vida é um jogo de interesses, no qual piedade e culpa são as piores fraquezas. Arrepender-se é inutil, desnecessário. Não há o errado, apenas jogadas ruins, que te levam a labirintos de sentimentos, a confusão de desejos enganando-te, conduzindo-te ao fundo. Esconder o que sentes, as vontades, é a melhor das estratégias, pois o coração é o maior traidor, a maior das fraquezas.
   Somos todos meros competidores, seguindo regras imaginárias, abstratas, numa busca incansável por uma suposta verdade. O conhecimento não passa de uma trapaça, uma ilusão para a mente que, enganada, pensa ter encontrado o caminho. Sutilmente surgem os impasses, imprevistos que te tiram desses desvaneios infantis, revelando nossa insignificância.
   E nesta troca de favores nos divertimos, perdendo e ganhando.



G.N.