terça-feira, 1 de setembro de 2015

Teatro da vida

  Um dia eu já fui Clarice. No outro, fui Tarcila. Agora, acho que me perdi. Sinto falta de quando fui Maria, mas ainda mais de quando fui Layla, ou talvez de quando fui aquela. É, aquela, Ella. Essa última confesso que criei, mas tão bem me adaptei à tal que talvez ela mesma eu fosse… Quem sabe talvez ainda seja. Não sei. Foram tantas eus, que acho que já fui até mesmo um “nós”. Bom, então, sinto dizer que "nós" nos perdemos.
   É, confesso que já até acho cômico. Parece aquelas tragicomédias. Vai ver a vida seja isso, uma grande peça de teatro, cujo protagonista somos nós. Todas essas personagens em uma só, transformando-se conforme o ato. Veja, se está tudo dividido assim, pulemos para a próxima cena, por favor? Ou melhor, será que podemos voltar?
   Sinto dizer, mas desconheço o roteiro, está tudo no improviso. O que explica tantos erros, tantas falas mal reproduzidas, tantos cortes mal dados. Está tudo uma loucura, uma verdadeira tempestade. A gota d’agua já foi a ultima faz tempo, só esqueceram de contar que o copo estava furado. Só nos resta rir então, deste drama que de tão profundo tornou-se raso. São lágrimas de choro e de riso que enchem essa maré da vida.
    Pra ser sincera, a nostalgia me invade quando lembro daquele outro cenário, daqueles outros personagens e daquela velha história. Fazer o que se sonho com aquela antiga música de fundo, com aquela melodia calma e aconchegante, com aqueles olhos que narravam cada sentimento interpretado. Era tudo tão mais fácil, a ingenuidade trazia uma certa beleza ao contexto. As luzes tornavam a ilusão quase real. Mas a máquina de fumaça quebrou, a corda arrebentou e o pouso deste vôo foi tão suave quanto um coração de pedra.
    Pelo menos um novo elemento surgiu, esse coração pragmático, racional, calculista, coube perfeitamente no novo contexto impiedoso da peça. Foi um congelamento necessário para a sobrevivência no inverno da solidão. É, quem diria que mesmo um “nós" poderia encontrar a tristeza do silêncio. Mas, há sempre uma luz no fim do túnel, o Sol sempre dá o seu jeito de aparecer e tudo volta a ser só questão de perspectiva. Basta mudar a lente um pouco para reencontrarmos o foco.
      Tenho agora uma nova página em branco, milhões de possibilidades e muitas outras eus para ainda conhecer. Claro que o medo ainda me ronda, continuo naquela sinestesia louca, mas há sempre aquele plano de fundo de esperança que me grita um alto e sonoro “quebre a perna” que me incentiva a continuar, a me achar dentro desse complexo “eu”. Acredito Naquele que me dirige e por estes palcos sigo sendo a protagonista do meu show. E devo dizer, que espetáculo.



G.N.

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